Quem leu o Livro "Meu amigo Michael" de Frank Cascio pode observar que esse livro fez parte do cotidiano de Michael Jackson, onde atras do ensinamentos do Livro ele mostrava a Frank como seguir e agir em certas partes da Vida.
Era de manhã
e o novo Sol cintilava nas rugas de um mar calmo.
A dois quilômetros da costa, um barco de pesca acariciava a água. Subitamente, os
gritos do Bando da Alimentação relampejaram no ar e despertaram um bando de mil
gaivotas, que se lançou precipitadamente na luta pelos pedacinhos de comida. Amanhecia
um novo dia de trabalho.
Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota
treinava. A trinta metros da superfície azul brilhante, baixou os seus pés com membranas,
levantou o bico e tentou a todo custo manter suas asas numa dolorosa curva. A curva fazia
com que voasse devagar, e então sua velocidade diminuiu até que o vento não fosse mais
que um ligeiro sopro, e o oceano com que tivesse parado, abaixo dele. Cerrou os olhos
para se concentrar melhor, susteve a respiração e forçou... só... mais... um... centímetro...
de... curva... Mas as penas levantaram-se em turbilhão, atrapalhou-se e caiu.
Como se sabe, as gaivotas nunca se atrapalham, nunca caem. Atrapalhar-se no ar é
para elas desgraça e desonra.
Mas Fernão Capelo Gaivota — sem se envergonhar, abrindo outra vez as asas
naquela trêmula e difícil curva, parando, parando... e atrapalhando-se outra vez! — não
era um pássaro vulgar.
A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples
fatos do vôo — como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é
voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar. Antes
de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar.
Esta maneira de pensar não o popularizava entre os outros pássaros, como veio adescobrir. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao vê-lo passar dias inteiros
fazendo centenas de vôos rasantes, sozinho.
Ele não sabia por que, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude
menor que a metade do comprimento das suas asas aberta, podia manter-se no ar mais
tempo, com menos esforço. Esses vôos rasantes não terminavam com a habitual
amaragem de pés hirtos que feriam a água. Ele amarava de mansinho, os pés apertados
contra o corpo, deixando apenas um rasto borbulhante. Quando começou a treinar as
aterragens deslizantes na praia, e a contar em passos o comprimento do rasto na areia, os
pais começaram a ficar deveras desanimados.
— Por quê, Fernão, POR QUÊ? — perguntava-lhe a mãe. — Por que é que lhe
custa tanto ser como o resto do bando? Por que você não deixa os vôos baixos para os
pelicanos, para o albatroz? Por que não come? Filho, você está que é só pena e osso!
— Não me importo de estar só pena e osso, mãe. Eu só quero saber o que posso
fazer no ar e o que não posso, é tudo. Só quero saber isso.
— Escute, Fernão — disse-lhe o pai com bondade. — O inverno não está longe.
Haverá poucos barcos e o peixe da superfície irá para zonas mais profundas. Se você tem
necessidade de estudar, então estude o alimento e como consegui-lo. Esta história dos
vôos está muito certa, mas você tem de pensar que não pode comer um vôo rasante. Não
esqueça que a razão por que você voa é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Nos dias seguintes tentou comportar-se como
as outras gaivotas; tentou de fato, gritando e lutando como o resto do bando, em volta dos
pontões e dos barcos de pesca, mergulhando sobre restos de peixe e de pão. Mas não
conseguiu.
"Não faz sentido", pensava ele largando deliberadamente uma anchova suculenta,
que lhe custara bastante a ganhar, aos pés de uma velha gaivota esfomeada que o
acossava. "Não faz sentido... Eu podia ganhar todo este tempo aprendendo a voar. Há
tanto que aprender!"
* * *
Não tardou muito que Fernão Gaivota voltasse a pairar no céu, sozinho, longínquo,
esfomeado, feliz, aprendendo.
O tema era a velocidade. Ao cabo de uma semana de prática, conseguira aprender
mais sobre velocidade do que a gaivota viva mais rápida.
A trezentos metros de altura, batendo as asas com toda a força de que era capaz,
lançou-se numa vertiginosa picada direta às ondas e aprendeu por que razão as gaivotas
não fazem vertiginosos mergulhos picados. Em escassos seis segundos passou a mover-se
a cento e vinte quilômetros por hora, velocidade que desequilibra a asa no arranque para a
subida.
Vez após vez sucedeu o mesmo. Por mais cuidadoso que fosse, trabalhando até o
limite da sua capacidade, perdia o controle em alta velocidade.
Subir a trezentos metros, dando primeiro tudo em frente; depois, dobrar o corpo e
cair em mergulho vertical. Mas, sempre que tentava subir outra vez, a asa esquerda
atrapalhava-se e fazia-o rolar violentamente para a esquerda. Ao tentar recuperar, era a
asa direita que se atrapalhava, e então tremeleava como as chamas, num selvático
movimento desordenado de parafuso, girando para a direita.
Não conseguir ser suficientemente cuidadoso naquele arranque. Dez vezes tentou e
dez vezes alcançou os cento e vinte quilômetros por hora, acabando sempre numa agitada
massa de penas descontroladas que ia esmagar-se na água.
Fernão Capelo Gaivota
Richard Bach
Ao verdadeiro Fernão Capelo Gaivota que vive em todos nós.
Richard Bach
Ao verdadeiro Fernão Capelo Gaivota que vive em todos nós.
Primeira Parte
Era de manhã
e o novo Sol cintilava nas rugas de um mar calmo.
A dois quilômetros da costa, um barco de pesca acariciava a água. Subitamente, os
gritos do Bando da Alimentação relampejaram no ar e despertaram um bando de mil
gaivotas, que se lançou precipitadamente na luta pelos pedacinhos de comida. Amanhecia
um novo dia de trabalho.
Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota
treinava. A trinta metros da superfície azul brilhante, baixou os seus pés com membranas,
levantou o bico e tentou a todo custo manter suas asas numa dolorosa curva. A curva fazia
com que voasse devagar, e então sua velocidade diminuiu até que o vento não fosse mais
que um ligeiro sopro, e o oceano com que tivesse parado, abaixo dele. Cerrou os olhos
para se concentrar melhor, susteve a respiração e forçou... só... mais... um... centímetro...
de... curva... Mas as penas levantaram-se em turbilhão, atrapalhou-se e caiu.
Como se sabe, as gaivotas nunca se atrapalham, nunca caem. Atrapalhar-se no ar é
para elas desgraça e desonra.
Mas Fernão Capelo Gaivota — sem se envergonhar, abrindo outra vez as asas
naquela trêmula e difícil curva, parando, parando... e atrapalhando-se outra vez! — não
era um pássaro vulgar.
A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples
fatos do vôo — como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é
voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar. Antes
de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar.
Esta maneira de pensar não o popularizava entre os outros pássaros, como veio adescobrir. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao vê-lo passar dias inteiros
fazendo centenas de vôos rasantes, sozinho.
Ele não sabia por que, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude
menor que a metade do comprimento das suas asas aberta, podia manter-se no ar mais
tempo, com menos esforço. Esses vôos rasantes não terminavam com a habitual
amaragem de pés hirtos que feriam a água. Ele amarava de mansinho, os pés apertados
contra o corpo, deixando apenas um rasto borbulhante. Quando começou a treinar as
aterragens deslizantes na praia, e a contar em passos o comprimento do rasto na areia, os
pais começaram a ficar deveras desanimados.
— Por quê, Fernão, POR QUÊ? — perguntava-lhe a mãe. — Por que é que lhe
custa tanto ser como o resto do bando? Por que você não deixa os vôos baixos para os
pelicanos, para o albatroz? Por que não come? Filho, você está que é só pena e osso!
— Não me importo de estar só pena e osso, mãe. Eu só quero saber o que posso
fazer no ar e o que não posso, é tudo. Só quero saber isso.
— Escute, Fernão — disse-lhe o pai com bondade. — O inverno não está longe.
Haverá poucos barcos e o peixe da superfície irá para zonas mais profundas. Se você tem
necessidade de estudar, então estude o alimento e como consegui-lo. Esta história dos
vôos está muito certa, mas você tem de pensar que não pode comer um vôo rasante. Não
esqueça que a razão por que você voa é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Nos dias seguintes tentou comportar-se como
as outras gaivotas; tentou de fato, gritando e lutando como o resto do bando, em volta dos
pontões e dos barcos de pesca, mergulhando sobre restos de peixe e de pão. Mas não
conseguiu.
"Não faz sentido", pensava ele largando deliberadamente uma anchova suculenta,
que lhe custara bastante a ganhar, aos pés de uma velha gaivota esfomeada que o
acossava. "Não faz sentido... Eu podia ganhar todo este tempo aprendendo a voar. Há
tanto que aprender!"
* * *
Não tardou muito que Fernão Gaivota voltasse a pairar no céu, sozinho, longínquo,
esfomeado, feliz, aprendendo.
O tema era a velocidade. Ao cabo de uma semana de prática, conseguira aprender
mais sobre velocidade do que a gaivota viva mais rápida.
A trezentos metros de altura, batendo as asas com toda a força de que era capaz,
lançou-se numa vertiginosa picada direta às ondas e aprendeu por que razão as gaivotas
não fazem vertiginosos mergulhos picados. Em escassos seis segundos passou a mover-se
a cento e vinte quilômetros por hora, velocidade que desequilibra a asa no arranque para a
subida.
Vez após vez sucedeu o mesmo. Por mais cuidadoso que fosse, trabalhando até o
limite da sua capacidade, perdia o controle em alta velocidade.
Subir a trezentos metros, dando primeiro tudo em frente; depois, dobrar o corpo e
cair em mergulho vertical. Mas, sempre que tentava subir outra vez, a asa esquerda
atrapalhava-se e fazia-o rolar violentamente para a esquerda. Ao tentar recuperar, era a
asa direita que se atrapalhava, e então tremeleava como as chamas, num selvático
movimento desordenado de parafuso, girando para a direita.
Não conseguir ser suficientemente cuidadoso naquele arranque. Dez vezes tentou e
dez vezes alcançou os cento e vinte quilômetros por hora, acabando sempre numa agitada
massa de penas descontroladas que ia esmagar-se na água.